Com o propósito de debater e difundir conhecimento sobre
os produtos agroalimentares, suas cadeias, inovação social e mercado, o
Sebrae Alagoas a Embrapa Alimentos e Territórios e a Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) deram início nesta quinta-feira
(18), ao Seminário Internacional “Estratégias de Valorização de
Produtos Agroalimentares”. O evento, que segue até esta sexta-feira
(19), é transmitido no canal da Embrapa no YouTube (www.youtube.com/embrapa).
O
seminário foi aberto pelo presidente do Sebrae Nacional, Carlos
Melles, que destacou o papel do Sebrae para incentivar iniciativas que
garantam a valorização de produtos agroalimentares e a certificação de
origem em todo o país.
“O Sebrae atua ajudando na identificação
geográfica de vários produtos. Através da certificação de origem e
identificação regional podemos agregar valor aos pequenos empresários
da agricultura. Nos últimos anos, melhoramos bastante o ambiente de
negócios e agora, nessa área da valorização agroalimentar, trabalhamos
para transformar realidades. O Sebrae se sente honrado e feliz de
participar de uma iniciativa que trará melhorias aos mercados através
da ciência, tecnologia e da certificação. Assim, iremos agregar valor
aos produtos agrícolas”, afirma.
Já o diretor executivo de gestão
institucional da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa), Tiago Toledo Ferreira, lembrou que o Brasil é líder na
produção de alimentos, fibras e bioenergia e tem na biodiversidade o
maior patrimônio atualmente, além da rica cultura. Segundo o diretor,
diante disso, surge o grande desafio de valorizar esse potencial.
“O
nosso desafio é explorar e valorizar toda essa potencialidade que
temos para transformar a vida das nossas comunidades. Com isso, estamos
falando do desenvolvimento de cadeias locais como a gastronomia de
forma inclusiva, impulsionando capacidades e relações sociais. O
desafio proposto pelo tema do seminário irá demandar novas tecnologias
agrícolas, capacitação e mobilização de empreendedores e comunidades,
geração de conhecimento, entre outras ações. Aqui, teremos uma
oportunidade para a formação de redes e novas ações através de
parcerias”, ressalta.
Na sequência, o professor da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), pesquisador nas áreas de
sociologia rural, da alimentação e do desenvolvimento, Sérgio
Schneider, ministrou a palestra magna ‘Diferenciação dos mercados
alimentares e desafios à valorização de produtos’.
Schneider
abordou o conceito de mercados como sendo os processos de interação
social que existem desde antes do capitalismo. Segundo ele, existem
quatro tipos de mercado: o de proximidade, de públicos, territoriais e
convencionais, todos passando pelo desafio de desenvolver uma economia
agroalimentar circular, incentivando o consumo de dietas sustentáveis e
a resiliência social e ambiental, conectados aos desafios atuais da
urbanização, saúde, nutrição e mudanças climáticas.
Outro tópico
debatido foi sobre os desafios centrais a partir de uma valorização do
mercado de produtos agroalimentares, sendo eles: a ideia de mais e
melhores mercados, inovação e atuação da indústria 4.0 para trazer mais
valor ao produto agroalimentar e seus produtores.
“Os
agricultores precisam de mais e melhores mercados para fortalecer os
seus meios de vida, seus ativos e com isso ampliar suas estratégias de
reprodução social. Para isso, precisamos, em três níveis; no nível da
família, construir capacidades; no nível dos territórios e contextos
locais, reduzir vulnerabilidades; e no nível do sistema social e
econômico, devemos promover resiliência social e ambiental”, frisou
Sérgio Schneider.
Em seguida, foi realizado o debate sobre o
tema com o chefe geral da Embrapa Alimentos e Territórios, João Flávio
Veloso, e o diretor técnico do Sebrae Alagoas, Vinícius Lages.
De
acordo com o diretor do Sebrae, o tema explanado por Sérgio Schneider
ajuda a trazer reflexões para as instituições envolvidas,
principalmente sobre como elas podem continuar apoiando o
desenvolvimento da agricultura e do empreendedorismo sob os pilares
apontados pelo palestrante e atuação no incentivo às indicações
geográficas no país.
“No Brasil, já temos um número significativo
de indicações geográficas que representam essas expressões
territoriais da diferenciação. Já são 86 IGs no país e grande parte
delas ligadas à produção de alimentos. Essas reflexões colocadas pelo
professor Sérgio nos fazem pensar nos desafios de como poderemos atuar
cada vez mais juntos construindo e implementando essas estratégias”,
pontua.
De acordo com João Flávio Veloso, a palestra contribuiu
para que as instituições pensem como o mercado tradicional e o
agroalimentar podem transitar juntos. “Nós aprendemos com o professor
Sérgio que os produtos agroalimentares precisam de mercados
diferenciados para que possam se expressar. É importante pensar como os
dois tipos de mercados irão coexistir. Nós teríamos um antagonismo
entre eles ou uma coexistência de mercados? Outro ponto é o papel das
políticas públicas para os mercados, sobretudo nesse momento de
pandemia que a gente vive”, conclui.
Na sequência, foi lançado o
livro ‘Mercados Alimentares Digitais’, organizado por Paulo Niederle,
Sérgio Schneider e Abel Casso. Coordenada pelo Grupo de Estudos e
Pesquisas em Agricultura Alimentação e Desenvolvimento e conduzida por
uma equipe de pesquisadores de diversas universidades (UFRGS, UFSM,
UTFPR, UNISC, UERGS, UFFS, IFFF), a pesquisa que viabilizou o livro
contou com o apoio da Cátedra Inclusão Produtiva Rural do Cebrap
Sustentabilidade. A publicação pode ser acessada no endereço https://bit.ly/MeALDig.
‘Mercados Alimentares e Inovação Social’
O
painel foi aberto com a palestra ‘O Plano de Integração do
Assentamento ao Mercado (PIAM)’, apresentada por Pedro Arraes, diretor
do Departamento de Desenvolvimento Comunitário (DATER), da Secretaria
de Agricultura Familiar e Cooperativismo (SAF), do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
O diretor discorreu
sobre o Programa Produzir Brasil, coordenado pela SAF em parceria com a
Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater) e
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), que visa
promover e facilitar a integração vertical voluntária de produtores
assentados como fornecedores a empresas exitosas de cadeias do
agronegócio. O programa, que atua junto ao Programa AgroNordeste,
também apoia a estruturação de negócios do campo e acesso ao crédito
rural.
Pedro Arraes mostrou os planos para os projetos de
assentamentos, plano de negócios da expansão do integrador e plano de
negócio do produtor integrado ao programa.
“Essa integração
permite a adoção de sistemas produtivos sustentáveis, aumentar a
produção, melhorar a gestão da empresa rural, gerando emprego e renda,
melhorando a qualidade de vida das famílias assentadas. No programa,
também levamos em consideração o entorno desses assentamentos e
identificação de empresas integradoras como cooperativas e
associações”, pontua.
A programação teve sequência com a
palestra ‘As estratégias de mercado dos produtos da biodiversidade do
Cerrado’, ministrada por Luis Roberto Carrazza, Secretário-Executivo da
Central do Cerrado, central de cooperativas que promove a inserção de
produtos extrativistas do Cerrado e Caatinga.
De acordo com Luis
Roberto Carrazza, a central, que teve origem em 2004 e formalização em
2010, envolve 35 empreendimentos comunitários entre associações e
cooperativas de agricultores familiares em nove estados brasileiros com
sede em Brasília, comercializando mais de 300 itens como alimentos,
artesanato, óleos e cosméticos.
A Central do Cerrado, que hoje
distribui seus produtos para todo o Brasil através de plataformas
marketplaces, bem como estratégias de varejo, contribuiu com a
estruturação e o atendimento às exigências de mercado e de ordem legal,
desenvolvendo diversos aspectos através de parcerias com centros de
pesquisa como a própria Embrapa para trabalhar a produção de frutas,
sementes e alimentos como pequi, mangaba, castanha de baru.
“Iniciamos
com relatos de cooperativas, pequenos agricultores que tinham
dificuldade de vender seus produtos para fora, manejavam bem os
recursos, conservando bem o território, fazendo o uso sustentável esses
recursos, mas não vendiam para outras localidades. Com a Central,
apoiamos esses produtores em suas comunidades tradicionais e
apresentamos o Brasil aos brasileiros, já que trabalhamos muito com a
nossa biodiversidade não apenas na indústria alimentar, mas também na
de cosméticos e farmacêutica”, pontua.
O case seguinte foi
apresentado por Érica Lobato, Coagricultora da CSA Esperança e
Colaboradora da Rede CSA Brasília, com a palestra ‘Comunidade que
Sustenta a Agricultura (CSA) como contrato social’. Ela destacou como
essas comunidades se organizam a partir do planejamento produtivo.
O
grupo produz hortaliças, frutas e verduras a partir de valores como
cooperação, redução de desperdício, sustentabilidade, financiamento e
confiança, respeito à sazonalidade, vendendo cestas com a produção a
partir de cotas para cada cliente e trabalhando de forma cooperada.
“Dentro
dessas comunidades encontramos a gestão democrática, pessoas que estão
com objetivos comuns, assumindo risco juntos, com toda a carga do
planejamento, produção e escoamento dessa produção, continuando junto
das famílias aconteça o que acontecer”, ressalta.
Já a palestra
‘Mercados Alimentares e Inovação Social na América Latina’, foi
apresentada por João Marcelo Intini, Oficial de Políticas de Sistemas
Alimentares do Escritório da FAO para América Latina e o Caribe, que
abordou aspectos da inovação social olhando para a Agenda 2030 e seus
desafios, desperdício e consumo de alimentos
Ele também trouxe
dados sobre a alimentação no continente e como a pandemia da covid-19
fez a região retroceder 15 anos na prevalência da subalimentação e 20
anos no número de pessoas atingidas pela fome.
“Toda essa
agenda segue como um enorme desafio a ser perseguido. Quando unimos
esses desafios a partir dos sistemas alimentares com a agenda 2030, o
grau de complexidade desse tema é aumentado. E é na complexidade que
devemos encontrar as soluções para problemas complexos. As soluções
apresentadas até aqui, não têm sido suficientes para eliminar as
desigualdades, diminuir a pobreza e a fome no mundo”, finaliza.
A
última palestra do dia “A experiência da Sociedade Peruana de
Gastronomia (APEGA)”, foi apresentada por Luis Ginocchio Balcázar,
Consultor em Sistemas Agroalimentares e Inovação... origem na Apega,
que nasceu a partir de um ‘boom’ gastronômico no país ligado com o
crescimento da economia local e, consequentemente, aumento da
capacidade de consumo.
Balcázar mostrou cases como feiras
gastronômicas e agropecuárias feitas com produtos do campo e
envolvimento da cadeia produtiva em parceria com a iniciativa privada e
incentivo aos pequenos agricultores para acessar mercado e atuar com
boas práticas de manejo e manipulação de alimentos.
“O Peru é um
país com muita serra, muitos maciços andinos, o que torna a
agricultura mais difícil. Mas, com esse cenário mais favorável, nasceu
um discurso de apoio à agricultura familiar, conservando a
biodiversidade. Aqui, o povo é muito apaixonado pela comida, o que
transformou a gastronomia em um motor de negócios e emprego”, frisa.
O
painel foi encerrado após o debate com todos os participantes e
palestrantes, moderado por Sônia de Souza Mendonça Menezes, Professora
da UFS.


