“Temos que trabalhar o dobro para ganhar a metade”. A
frase é do motorista por aplicativo Sandro João Soares. Morador da parte
alta de Maceió, ele é um dos trabalhadores que sofre com os efeitos do
aumento no preço dos combustíveis. A mais recente alta se deu nesta
sexta-feira (11), onde, de acordo com a Petrobras, houve uma variação de
R$ 0,44 média por litro.
Nas bombas, porém, a história é outra. A gasolina em Maceió já ultrapassa o valor de R$ 8,00/L e, segundo apurado pelo Jornal de Alagoas, a variação entre o posto mais barato e o mais caro é de R$ 1,71, sendo o mais barato R$ 6,389 e o mais caro R$ 8,099.
Os
motoristas de app são uma das primeiras categorias de trabalhadores a
sentirem os reflexos da alta de preços. Para continuar a rodar e manter o
lucro, eles estão preferindo abastecer com etanol, ao invés da gasolina
comum.
Motorista por aplicativo há três anos, Sandro Soares
mora no bairro do Petrópolis. Com carro próprio, ele sai pra trabalhar
às cinco horas da manhã, com uma meta estabelecida de lucro, mas, para
conseguir atingi-la às 14h, horário em que retorna para casa, a
estratégia foi migrar para o álcool.
“Não existe um aumento
desse jeito. Antigamente a gasolina era R$ 3,50, agora está mais de R$7,
do jeito que tá essa situação de pandemia. Não ajuda ninguém. Eu
abastecia com gasolina porque é melhor para o carro e rende mais, mas
agora só abasteço com álcool e tento rodar devagarinho para não queimar o
combustível rapidamente”, conta, detalhando o seu método para preservar
o combustível. “Nós passamos o dia na rua, eu ainda gasto com almoço e
café. Com a manutenção do carro e outros gastos, acaba que eu tenho que
trabalhar o dobro, pra ganhar a metade”, completa.
A situação é
parecida para José Lucas Almeida. Motorista de aplicativo há quatro
anos, ele roda com carro alugado e também utiliza o álcool para
abastecer. Com o aumento no preço dos combustíveis, seu futuro é incerto
e ele não sabe se vai conseguir continuar trabalhando.
“Se ficar muito pesado vou ter que entregar o carro”, lamenta.
Álcool: confira postos de Maceió onde pode-se encontrar etanol mais em conta
Antes,
ele contou que irá fechar mais uma semana de trabalho para testar e
poder analisar sua margem de lucro. José Lucas gasta R$ 1.600,00 com o
aluguel do carro e diz que o aplicativo em que trabalha define os
valores de R$ 0,99 por km, e 11 a 12 centavos por minuto de corrida, com
taxa base de R$ 1,87 para o motorista.
“É muito pouco para o
tamanho do lucro das empresas, fora que não há garantia trabalhista e o
motorista sofre muitos riscos na rua. Não sei como vai ser daqui pra
frente”, conclui.
Preço do etanol
Com a
disparada no preço da gasolina o álcool tem sido uma opção viável para
motoristas de Alagoas. O etanol pode ser encontrado na capital alagoana
por até R$ 4,569, uma diferença de quase dois reais por litro.
A explicação pode ser encontrada na venda direta de etanol das usinas de cana de açúcar de Alagoas,
estado que é um dos principais produtores dessa matéria prima no país,
para os postos de combustível do estado, como noticiado em primeira mão
pelo Jornal de Alagoas.
Categoria protesta
No último dia 7, os motoristas por aplicativo de Maceió, realizaram um protesto contra a alta no preço dos combustíveis e derivados . A manifestação reuniu trabalhadores de Maceió e do interior. Eles disseram os aumentos tornam a atividade inviável.
A
concentração do protesto aconteceu na Praia da Avenida e eles
percorreram algumas das vias principais do Centro de Maceió. No final da
manhã, os motoristas bloquearam a Rua do Sol.
Caminhoneiros também reclamam
Para
Wanderei Alves, caminhoneiro conhecido como Dedeco, um dos principais
líderes da greve da categoria em 2018, o Brasil tem que parar em
protesto contra o novo aumento no preço dos combustíveis, anunciado pela
Petrobras, nesta quinta-feira (10).
Em Mato Grosso, onde parou o
caminhão que está dirigindo para abastecer e seguir viagem até
Presidente Prudente, em São Paulo, ele afirma que pagou R$ 6,8 o litro.
“E agora vai para mais de R$ 8”, protestou.
“Eles já tiveram um
lucro absurdo, doentio com os aumentos mais recentes, e estão ficando
milionários às custas da tragédia de todos nós. Só quem está feliz hoje
no país são os investidores da Petrobras”, disse.
Caminhoneiros e
transportadoras são os primeiros a sentir o baque, afirma Dedeco, mas
logo os preços são repassados e chegam aos supermercados e em todos os
produtos, “penalizando a todos”.