O acordo internacional feito na última Conferência do
Clima prevê a redução das emissões de metano no mundo em 30% até 2030. A
pecuária, como uma das atividades que mais emitem esse gás terá de se
adaptar. A boa notícia para os pecuaristas brasileiros é que o país já
possui tecnologia para se adaptar e conta com bons exemplos disso. Quem
faz a afirmação são os pesquisadores da Embrapa Alexandre Nascimento e
Roberto Giolo, que palestraram durante a feira Norte Show, em Sinop
(MT).
Diante de uma plateia formada por produtores rurais,
consultores técnicos e estudantes, eles apresentaram resultados de
pesquisas desenvolvidas pela Embrapa sobre as emissões de gases de
efeito estufa na agropecuária e falaram sobre certificação de carne
produzida em sistemas sustentáveis.
Alexandre Nascimento, da
Embrapa Agrossilvipastoril, mostrou resultados de pesquisas realizadas
em Sinop com apoio do setor produtivo, por meio da Acrimat e Acrinorte,
avaliando diferentes sistemas integrados de produção agropecuária, como
integração lavoura-pecuária (ILP), pecuária-floresta (IPF) e
lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Os dados indicam maior produtividade
em uma mesma área nos sistemas mais intensificados e um menor balanço de
emissões de carbono equivalente.
De acordo com Alexandre, em
sistemas bem manejados há aumento da matéria orgânica no solo e
estocagem de carbono em forma de raízes das forrageiras e nas árvores,
quando elas fazem parte do sistema. Ao mesmo tempo, a pastagem com
manejo correto é mais produtiva, resultando em maior ganho de peso
animal e maior precocidade sexual de novilhas.
“Há três formas de
reduzir as emissões de metano do gado. Uma é pela genética, mas ainda
temos poucas informações. Outra é mexendo no rúmen do animal, seja com
antibióticos ou eletrodos. Mas são formas caras e ainda inviáveis. A
terceira, e mais fácil, é via alimentação. Quanto menos tempo levar para
completar o ciclo do animal, menor será a emissão por kg de carne ou
leite produzido”, explicou Alexandre Nascimento.
Sistemas como a
ILP e a ILPF são ferramentas importantes para se intensificar o uso do
solo e reduzir a pegada de carbono da pecuária. Mas, mesmo em pastagens
tradicionais, se bem manejadas, já é possível ter bons resultados. De
acordo com Alexandre, um pasto bem manejado pode compensar as emissões
de dois animais. Já os sistemas com presença de árvores podem compensar a
emissão de até dez animais.
“Já temos todas as práticas prontas.
Temos as tecnologias e devemos fazer ajustes para cada condição. Falta a
adoção. E isso é uma grande oportunidade para aumentar o valor agregado
da produção”, afirma Alexandre Nascimento.
O Programa ABC
(2010-2020) e o Programa ABC +, lançado em 2021, foram citados como
exemplos de políticas públicas brasileiras de vanguarda e de grande
alcance que vem contribuindo para a adoção de práticas agropecuárias de
baixa emissão de carbono no país.
Ainda como forma de estímulo à
adoção de tecnologias mais sustentáveis, o pesquisador da Embrapa Gado
de Corte Roberto Giolo apresentou o programa Carne Carbono Neutro (CCN),
cujas diretrizes foram lançadas pela Embrapa em 2015. Ele destacou o
pioneirismo da iniciativa, que foi seguida por programas nacionais de
pecuária de baixa emissão de gases de efeito estufa na Costa Rica,
Austrália, Nova Zelândia, Portugal, Colômbia, Uruguai e Argentina. Além
do CCN, que já conta com certificação de propriedades e comercialização
de produto em grandes centros brasileiros, ele mencionou o programa
Carne Baixo Carbono, que deverá ter suas diretrizes lançadas ainda neste
ano. Enquanto o CCN necessariamente tem que ter árvores no sistema
produtivo, o CBC contemplará tanto sistemas ILP quanto pecuária
exclusiva em pastagem bem manejada.
“A perspectiva do selo é
valorizar mais o produto carne. Ao adotar os protocolos, que são
monitorados pela certificadora, o produtor já vai ganhar em
produtividade pela simples adoção do protocolo. Claro, há os custos com a
certificação, mas há a perspectiva de valorização do produto e
pagamento de um bônus pela carne que supera o custo para a
certificação”, explica Giolo.
Outra vantagem, da adoção de tecnologias de baixo carbono é o acesso a linhas de crédito mais baratas, como o Programa ABC.
Porém,
Roberto Giolo alertou em sua apresentação que nada adianta o produtor
fazer tudo corretamente dentro da fazenda, se o setor agropecuário como
um todo não se unir na cobrança do combate ao desmatamento ilegal. De
acordo com ele, todo o esforço dentro da porteira é colocado em xeque
por mercados internacionais diante do problema do desmatamento, que,
além de reduzir as florestas, eleva as emissões de gases de efeito
estufa no Brasil.
“Os setores industriais e do petróleo, outros
dois responsáveis pelas emissões brasileiras, não vão se articular
contra o desmatamento, pois seus negócios não são afetados. Cabe ao
setor agropecuário fazer isso. Nada adianta fazer tudo certo e
continuarmos com desmatamento ilegal no país”, ressaltou.
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