“Comida boa e no precinho”. A frase de boas-vindas pode
ser lida no gigante painel que ornamenta o hall de entrada do
Restaurante Popular Prato Cheio, localizado no Benedito Bentes, um dos
bairros mais populosos de Maceió e onde se encontra também boa parte de
pessoas em vulnerabilidade alimentar.
E o “no precinho” não é só figura de retórica. Isso porque cada
pessoa que frequenta o espaço paga apenas o simbólico valor de R$ 2,,
endossando um dos mais importantes programas e políticas públicas
lançados em junho deste ano pelo governador Paulo Dantas: o Pacto Contra
a Fome, que visa ao combate à desnutrição e à insegurança alimentar da
população em maior situação de vulnerabilidade social no Estado.
Como
sugere o nome, o acesso ao Restaurante Popular Prato Cheio — e o valor
simbólico da refeição — é democrático e atrai as pessoas de todas as
faixas, sem necessidade de cadastro específico ou regularidade de
frequência. Por lá, são servidas 2.250 refeições diárias, entre almoço e
jantar, que oferecem a opção de bandejão e quentinha a seus usuários.
O público é constituído por trabalhadores formais, trabalhadores
informais de baixa renda, desempregados, aposentados, estudantes,
população em situação de rua, entre outros grupos de pessoas em
vulnerabilidade social e risco alimentar.
É gente assim como as
mamães e irmãs Jéssica Barbosa e Jackeline Francisca. A primeira
acompanhada da pequena bebê Isadora, de apenas 1 ano em três meses, e da
pequena Isabelle, de 5 aninhos, enquanto a segunda alimentava o pequeno
David, de 1 ano e nove meses, e Davi, de 5 anos.
As duas são
moradoras dos conjuntos Carminha e Parque das Américas, respectivamente,
no entorno do Complexo Benedito Bentes, que agrega uma população
estimada em quase 200 mil moradores. “Como vivo apenas com o
Auxílio-Brasil e meu marido faz somente ‘bicos’, sempre que posso venho
aqui no Restaurante Popular me alimentar e dar comida as minhas filhas, o
que já ameniza as despesas. E adoro comer aqui, porque a comida é
espetacular”, elogia Jéssica. “A gente come muito bem e o cardápio é
fantástico", completa a irmã ,Jackeline, enquanto coloca o alimento na
boca do pequeno Davi. Assim como a irmã Jéssica, ela é desempregada, e
também vive do Auxílio-Brasil enquanto o marido não tem emprego formal.
Restaurante popular literalmente dá gosto com preço e qualidade
Os
elogios das irmãs ao que é servido no Prato Cheio não são à toa, como
explica a nutricionista Ana Paula, da equipe de Nutrição da Secretaria
de Estado de Assistência e Desenvolvimento Social (Seades), responsável
por executar o controle do restaurante. O cuidado é desde o recebimento
da matéria-prima até a coleta de amostras de higiene sanitária, o que
garante refeições balanceadas e um cardápio diversificado.
O
almoço é composto por duas opções de proteína, dois tipos de
acompanhamento, uma guarnição e duas saladas - uma crua e outra cozida -
além de suco e sobremesa. No jantar é oferecida uma opção de sopa, com
pão ou torrada, e café.
“Temos sempre o cuidado de fazer uma alimentação balanceada, porque
também atendemos a todas as faixas etárias, de crianças a idosos,
pessoas com comorbidades, como diabetes e hipertensão. Visamos atender à
questão nutricional, passar para a população uma comida de qualidade, e
por apenas dois reais”, ressalta Ana Paula Novaes.
Barato, democrático e para todas as idades
Com
tamanha qualidade e zelo, só quem ganha no sabor e no bolso são os
clientes do Prato Cheio, que se fossem pagar pelo o que é ofertado no
restaurante popular em qualquer outro estabelecimento privado, o valor
não sairia por menos de R$ 20,00, em média.
E como bem disse a
nutricionista, democrático que é, o Prato Cheio atende de jovens e
crianças a idosos, como é o caso do aposentado Luiz Batista da Silva, 81
anos, e morador do conjunto Novo Horizonte, também nos arredores do
restaurante e frequentador assíduo.
“A comida daqui é mais do que
aprovada e baratinha, né!”, elogia Luiz Batista, ao explicar que se
alimenta no Prato Cheio diariamente porque está separado e não tem
prática de fazer comida em casa. Nos fins de semana, como o restaurante
não funciona, Luiz diz que “se vira” com a ajuda de familiares que
preparam sua alimentação.
O restaurante tem seu funcionamento
regular entre 11h e 14h, mas é comum as pessoas chegarem ao espaço bem
antes do horário previsto para guardarem um lugarzinho na longa fila. É o
caso da aposentada Maria Cícera Menezes, que perto das 9 horas da manhã
já se posiciona na fila do lado de fora para pegar as quentinhas
fornecidas para quem não vai se alimentar no recinto pelo sistema de
bandejão. “Sempre que posso, venho aqui pegar quentinhas, já me alivia
bastante as despesas em casa, porque meu marido faz apenas bicos”, conta
Maria Cícera.
Esse caso é semelhante ao de Edmilson Cândido, 55
anos, aposentado por invalidez e que recebe um salário mínimo. “Quando
posso, venho saborear a alimentação daqui, porque, além de ser
deliciosa, ajuda a sobrar dinheiro para os remédios que tenho que
comprar, principalmente para os da diabetes, que são caros”, explica.
Nem só de futebol vive o Rei Pelé, mas de boa alimentação “no precinho”
O
Programa Pacto Contra a Fome se estende também a outro restaurante
popular na capital, também gerenciado pela Seades. E este está
localizado no extremo de onde está o Prato Cheio. É o restaurante
popular do Estádio Rei Pelé, no bairro do Trapiche da Barra, inaugurado
este ano, com atendimento diário de segunda a sexta e que entre almoço e
jantar também oferece 2.250 refeições diárias, ao preço de R$ 2, a
pessoas de baixa renda do bairro do Trapiche e entorno.
E é por
lá, onde ocorrem as partidas de futebol dos principais times alagoanos,
que a idosa Dilma dos Santos, devidamente paramentada com uma camisa do
CSA e frequentadora assídua do espaço gastronômico popular, fez questão
de ressaltar a atenção com os idosos como ela.
“Tenho 66 anos e
acho muito bacana que pessoas como eu, de idade, tenham uma opção de se
alimentar muito bem, a um preço simbólico, porque, como minha renda é
mínima, posso economizar para comprar medicamentos, que são caríssimos
para idosos que sofrem de várias doenças como eu”, ressalta Dilma, ao
agradecer o governo do Estado pela iniciativa.
E não por
coincidência, quem também se alimenta praticamente todos os dias no
Restaurante Popular do Rei Pelé é uma atleta egressa da Bahia, que
disputa por um time alagoano o Campeonato Feminino de Futebol. Ela é
Joyce Santos, 23 anos, que está alojada há um mês nas dependências do
estádio. “É uma comida muito bem balanceada e o que é um fator
importantíssimo para uma atleta como eu”, destaca Joyce, ao também
elogiar os pratos servidos diariamente no restaurante.
Restaurante Popular é só uma das pontas do Pacto Contra a Fome, explica secretária
Além
dos dois restaurantes populares localizados em Maceió, a secretária de
Estado da Assistência e do Desenvolvimento Social, Aline Rodrigues,
explica que o Governo do Estado também inclui no Programa Pacto Contra a
Fome o quantitativo de 109 mil cestas básicas, distribuídas mensalmente
à população em situação de extrema pobreza, inscritas no (CadÚnico).
Compostas por 12 tipos de alimentos de alto poder nutricional, o
fornecimento já alcançou a marca de 210 mil cestas entregues aos 102
municípios alagoanos desde agosto deste ano.
De acordo com Aline
Rodrigues, no caso das cestas, a entrega se dá de forma continuada, por
meio de agendamento com a equipe técnica da Seades, para a retirada em
depósito ou distribuição direta aos municípios. “No caso específico dos
restaurantes populares, o Pacto se caracteriza pelo baixo custo da
alimentação de alto valor nutritivo, onde o Estado subsidia a maior
parte do valor”, informa a secretária, ao anunciar que, em breve, o
município de Arapiraca também terá seu restaurante popular.
Financiado
pelo Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza (Fecoep), somente nos
dois restaurantes populares o investimento do Governo de Alagoas é de R$
5.969.387.