O investidor europeu está mais otimista com o Brasil para
2023 do que em anos anteriores, na avaliação do presidente da Câmara de
Comércio Italiana de São Paulo, Graziano Messana.
O fim das
polêmicas em torno da Amazônia, a rápida reação à inflação com um Banco
Central independente e o melhor momento frente a outros emergentes
coloca o país como um dos destinos prioritários para as empresas da
União Europeia, afirma Messana, que no próximo mês assume o comando da
Eurocâmaras Brasil, entidade que congrega cerca de cinco mil companhias
do bloco.
“O Brasil tem chamado a atenção dos investidores
europeus por ser um país que reage muito rápido às crises. Vimos isso em
2008, 2015, na pandemia de covid e, mais recentemente, na subida rápida
dos juros para conter a inflação”, afirmou o dirigente em conversa com
jornalistas.
Em outra frente, o empresário afirmou que as
recuperações judiciais de Americanas (AMER3) e Light (LIGT3) chegaram a
ligar um sinal de alerta nos investidores europeus. “Muitos perguntavam
‘então não é só nos Estados Unidos?’”, diz. No entanto, acrescenta, o
pessimismo vem arrefecendo diante da resiliência da economia.
Messana
lembrou ainda que algumas agendas regulatórias precisam avançar do
ponto de vista europeu, em especial a que trata de venda de terra a
estrangeiros. Atualmente, o país não autoriza esse tipo de comércio.
Caso um estrangeiro queira investir em terras, terá que ser minoritário
em uma sociedade com um brasileiro.
“Não é um modelo atrativo.
Por mais cordial que a sociedade possa ser, não é quem de fato que está
investindo que tem o controle”, argumenta. “Que se autorize a compra e
coloquem as condições, não somos contra isso. Pode-se comprar imóveis
urbanos e empresas, mas não podemos comprar terras por qual motivo?”,
questiona Messana.
Descarbonização e infraestrutura
O
presidente da Câmara Italiana diz que o objetivo não é tomar terras
produtivas dos produtores brasileiros, mas encontrar áreas onde seja
possível fomentar a preservação e, assim, obter os cobiçados créditos de
carbono, essenciais para que as empresas europeias cumpram suas metas
de descarbonização. O dirigente vê ainda a necessidade de que o Banco
Central regulamente o envio desses créditos emitidos no Brasil para o
exterior.
Ainda na pauta de descarbonização, Graziano Messana
destacou o interesse de empresas europeias na produção de energias
renováveis.
A italiana Enel vem expandindo sua geração de energia
eólica em um plano de investir cerca de R$ 31 bilhões até 2024. Em
outra frente, a francesa Total fez uma joint venture de R$ 12 bilhões
com a brasileira Casa dos Ventos no ano passado. Uma outra gigante
italiana que não atua no Brasil também estaria estudando formas de
investir em energia eólica no país, segundo Messana.
Há ainda o
interesse de empresas do bloco em participar do leilão da concessão do
trecho da BR-040 que liga Minas Gerais e o Rio de Janeiro, previsto para
este semestre, bem como nos certames da Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel), que ocorrerão no próximo mês.
Acordo UE-Mercosul
O
dirigente da Câmara Italiana reforça que o empresariado da União
Europeia, em sua maioria, apoia os termos do acordo com o Mercosul,
assinado em 2019 e que ainda aguarda aval dos dois blocos. “Nós
estivemos recentemente com o Josué [Gomes, presidente da Fiesp], que
também demonstrou disposição pelo acordo”, argumentou.
Para o
dirigente, a discussão política acabou contaminando o debate comercial
e, em último caso, o acordo poderia ser “fatiado” entre as duas frentes.
“A
União Europeia possui competência comercial e poderia assinar o acordo
sob o aspecto comercial, caso o Parlamento Europeu aprove. No entanto,
os termos políticos ficariam de fora”, explicou.
Para o
empresário, o atraso apenas estimula que ocorram mais acordos
bilaterais. “Enquanto seguramos este acordo, poderemos ver os países se
acertando entre eles. Não faz muito sentido”, ponderou.
O
dirigente comentou ainda que as declarações do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) sobre o papel do Ocidente na guerra na Ucrânia não
foram bem vistas pela comunidade europeia. “O presidente se meteu em uma
situação complicada”.
Legislação e câmbio
O
futuro presidente da Eurocâmaras Brasil defendeu a manutenção de
legislações consideradas importantes para os empresários do bloco, como a
reforma trabalhista e a lei de arbitragem, e reforça que a reforma
trabalhista trouxe mais conforto ao investidor europeu, diante de uma
percepção de que havia muita judicialização no país. No âmbito da
arbitragem, a visão é de uma proteção maior contra possíveis
interferências do judiciário em questões entre empresas.
Em um
momento em que o Brasil discute mudar a moeda de negociação com China e
Argentina, Messana disse que esta não é uma prioridade dos empresários
europeus. Atualmente, as transações são em dólar e tendem a seguir
assim, segundo o dirigente.