Pesquisa do Instituto
Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) aponta que,
no primeiro trimestre de 2023, a remuneração média das mulheres negras
era de R$ 1.948, o que equivale a 48% do que homens brancos ganham na
média, 62% do que as mulheres brancas recebem e 80% do que os homens
negros ganham.
Cálculos feitos pela pesquisadora Janaína Feijó
mostram que 50% da distância entre a remuneração de mulheres negras e a
de homens brancos está relacionada a características do trabalho
referentes ao tipo de atividade e função que elas exercem. “Então, é
importante perseverar em melhorias no campo da educação”, afirmou, em
nota.
Essa desigualdade permanece apesar do aumento do
contingente de mulheres negras na população em idade ativa e da
ampliação da escolaridade. Segundo o levantamento, entre o primeiro
trimestre de 2012 e o de 2023, a população em idade para trabalhar
cresceu 13,4% no Brasil; entre mulheres negras, essa expansão foi de
24,5%, próximo do registrado para homens negros (22,3%), e muito acima
do percentual entre homens brancos (2,8%) e mulheres brancas (1,9%).
De
acordo com a pesquisadora, a participação das mulheres negras que
chegaram ao ensino superior e concluíram o curso dobrou, de 6% em 2012
para 12% em 2023. Esse avanço, entretanto, não foi suficiente para
melhorar outros indicadores deste grupo no mercado de trabalho. Apenas
pouco mais da metade (51%) que têm idade para trabalhar (14 anos ou
mais) estavam no mercado de trabalho – ou seja, empregada ou buscando
uma atividade remunerada – no primeiro trimestre de 2023.
Entre
essas mulheres, o desemprego continua sendo maior. No primeiro
trimestre, era de 13,1%, contra 8,8% para o total do Brasil, de acordo
com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Entre todas as mulheres negras em idade para trabalhar, que somaram 50
milhões no primeiro trimestre de 2023, apenas 44% (22,1 milhões) estavam
empregadas. Esse nível tem permanecido estável ao longo do tempo e é o
menor quando comparado com os demais grupos: para as mulheres e homens
não negros, esse percentual foi de 49,3% e 67,7%, respectivamente”,
disse Janaína.
As mulheres negras empregadas estão
majoritariamente em funções que apresentam remunerações mais baixas e
que estão mais associadas à informalidade. Janaína ressalta que mais da
metade (55%) são trabalhadoras dos serviços, vendedoras ou trabalhadoras
de ocupações elementares. Segundo ela, os fatores que levam a esse
quadro são múltiplos, a começar por barreiras dadas por preconceitos ou
falta de oportunidades para capacitação.
A informalidade também
se mostra o caminho para mães que não têm uma rede de apoio financeira
ou de cuidados para suas crianças pequenas, de acordo com Janaína.
Levantamento anterior da pesquisadora do Ibre/FGV aponta que, entre 2012
e 2022, o número de mães solo negras saltou de 5,4 milhões para 6,9
milhões, que representa quase 90% do crescimento total observado no
período.
Do total de mães solo brasileiras, 72,4% vivem em domicílios monoparentais, ou seja, compostos apenas por elas e seus filhos. O levantamento foi realizado em referência ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado em 25 de julho.