Nervosa, ao telefone, a dentista Isadora Martins relata
para a policial militar que a atende que tinha uma emergência. A militar
pergunta qual emergência. E ela responde: “briga de casal, fui
agredida, fui jogada no chão”.
A militar pergunta se a pessoa que
a agrediu “está aí no local, você pode dizer sim ou não?”. Ela
responde “sim”. Em seguida, passa a dar o endereço da ocorrência e é
orientada a esperar a guarnição da PM.
O áudio com a gravação da
ligação de Isadora Martins para PM está preservado. Tem 2 minutos e 42
segundos, mas não poderá ser divulgado por enquanto para não prejudicar
as investigações.
O que se segue a partir daí é uma ocorrência
policial completamente atípica, com uma demora fora de padrão para
transferência dos envolvidos até a Central de Flagrantes.
Pelos
relatos, quando a guarnição chegou ao local da ocorrência encontraram
portas arrombadas e o acusado, João Antônio Holanda Caldas, o Dr. JHC
trancado em quarto. Ele se recusava a sair.
Veja trecho do Relatório Integrado da Ocorrência: 1051464
“Fomos
acionado via Copom para uma situação de violência contra a mulher,
chegando ao local indicado encontramos a suposta vítima que se
encontrava bastante nervosa a senhora Isadora Martins que nos relatou
que teria discutido com seu companheiro. Ao visualizar o interior do
apartamento que se encontrava com a porta aberta , a guarnição observou a
porta do quarto do casal quebrada na sua parte inferior e trancada,
onde no interior do comodo se encontrava o seu companheiro o senhor João
Antônio Holanda Caldas que não atendeu o pedido pra abrir a porta e, de
imediato acionamos a supervisão onde posteriormente chegou o
sub-tenente Jânio, o coordenador de operações do Copom, Capitão Diego
Vieira também se fez presente no local o tenente coronel Rodrigo Amorim,
e a mãe do Envolvido assim como os advogados das partes, conduzimos as
partes para a central de flagrantes”.
Pelos registros oficiais,
os envolvidos na ocorrência só chegam à Central de Flagrantes cerca de
duas horas depois da abordarem da guarnição. Normalmente, guardada a
distância, o tempo padrão seria de 15 a 30 minutos em casos como esse,
segundo um experiente delegado da Polícia Civil.
Pior.
Estranhamente, o acusado, Dr. JHC chega ao local 45 minutos antes,
acompanhado da ex-senadora e suplente de senadora, Eudócia Caldas, mãe
dele. Eudócia é também médica, capitã da reserva da PM de Alagoas e
ex-prefeita de Ibateguara-AL.
O acusado é irmão do prefeito de
Maceió, foi suplente de deputado federal pela Bahia e chegou a exercer o
mandato na Câmara dos Deputados entre maio e outubro de 2020.
Além
de Eudócia Caldas, Dr. JHC chega a Central de Flagrantes acompanhado de
militares. A informação é de ao menos um deles prestaria serviço à
prefeitura de Maceió. Outro comportamento atípico na chegada do acusado é
que ele foi autorizado a entrar pelos “fundos” da Central, o que
evitaria na versão de alguns a “exposição”, porque a aquela altura já
haviam várias pessoas tentando acompanhar o caso no local.
Na
sequência, Isadora Martins chega num carro, em que estaria um delegado
da Polícia Civil, e alguns militares que também prestariam serviços para
a prefeitura de Maceió. De acordo com imagens a que o blog teve acesso,
o delegado e os policiais descem antes, conversam rapidamente entre si e
depois mandam a suposta vítima descer. Isadora é então cercada por eles
e, após aparentemente ouvir algum tipo de orientação, é levada para
entrar na Central de Flagrantes.
No depoimento, segundo o Boletim de Ocorrência, ela nega ter sofrido agressão.
Provas
Todos
estes registros estão gravados em vídeos da Central de Flagrantes, a
que o blog teve acesso. Sua divulgação deverá ser feita, em breve, pelas
autoridades. O vídeo, o áudio, todo o material será disponibilizado no
inquérito.
Investigação
A Polícia Civil e a
Polícia Militar devem iniciar investigações internas acerca dos
procedimentos no caso do Dr. JHC. Um delegado da PC explica, sob
condição de sigilo da fonte, que militares ligados a assessoria militar
da prefeitura de Maceió teriam tirado a vítima do local e só decidiram
apresentá-la após a ameaça de que poderiam ser processados por “rapto”
ou “obstrução de justiça”.
De acordo com o delegado, as
informações é que um militar ligado a assessoria militar da prefeitura
de Maceió foi até o local da ocorrência e retirou de lá Isadora:
“ficaram com ela por quase uma hora num carro, aparentemente
pressionando para que ela mudasse a versão”, aponta.
Nova versão
No
dia seguinte aagresão, neste domingo a tarde, a dentista Isadora
Martins, usou as redes sociais na tarde deste domingo (19/11), para
explicar que não sofreu agressão. O comportamento ocorre em vários casos
deste tipo, em que a vítima se arrepende da denúncia e tenta mudar a
versão.
“Surgiu uma fake news envolvendo meu nome e do meu noivo.
Recentemente, houve um mal entendido entre mim e ele. Quero ressaltar
que não sofri qualquer tipo de agressão ou violência por parte dele”,
escreveu.
“Lamento que pessoas maldosas, de má fé, estejam
explorando midiaticamente nossa intimidade com fofocas e mentiras.
Estamos bem, agradeço a preocupação e peço respeito a todos”, concluiu
Isadora.

Veja o Boletim de Ocorrência

