A perda do grau de investimento da Braskem pelos
critérios da agência Fitch e um rebaixamento na nota de crédito pela
Moody’s foram entendidas pelo mercado como um movimento natural diante
da atual situação da companhia. Ou seja, a mudança de rating não chegou a
surpreender e, muito menos, a assustar ninguém. “Mas o que a gente fica
se perguntando é se tem algo que a gente não está vendo. Não
encontramos nada material até agora”, diz um gestor de um grande fundo
de crédito, investidor de Braskem.
O que dá alívio neste
momento, avaliam pessoas próximas da companhia, é que ela aproveitou as
janelas do mercado internacional e fez emissões de bonds que colocaram
cerca de 69% da dívida com vencimentos após 2030, eliminando assim
pressões de rolagens de curto prazo. Outro motivo é que esses papéis já
estavam sendo negociados no mercado secundário a taxas acima de 9%,
compatíveis com a nota atual da empresa – ‘BB+’ e ‘Ba2’, em Fitch e
Moody’s, respectivamente – na S&P, a empresa ainda tem o investment
grade, mesmo sendo a última nota antes do grau especulativo (‘BBB-’).
Portanto,
do ponto de vista de crédito, as novidades recentes envolvendo os
riscos de colapso nas minas em Maceió não agravam a estrutura de capital
da Braskem, considerada por gestores de crédito ouvidos pelo IM
Business como equilibrada. Esses especialistas, que carregam em suas
carteiras bonds e debêntures da companhia, reforçam que fazem um
monitoramento constante à procura por “adicionalidades” que possam
“machucar” o papel.
Esses profissionais entendem que, como o evento geológico, conhecido do mercado desde 2019, já foi razão de uma provisão expressiva, de R$ 13 bilhões. Diante disso, se a empresa tiver que pagar R$ 1 bilhão a mais, como está pedindo o governo estadual de Alagoas, não haveria um grande impacto do ponto de vista do crédito da companhia.
O que está em jogo agora é o equity da empresa. Esse tem uma sensibilidade mais alta à pressão feita pelo governo estadual de Alagoas e também da CPI, que deve ser instalada em fevereiro. Na prática, as investigações tendem a atrasar o desfecho da negociação para a venda da companhia. “No meio de uma CPI, não se faz cheque”, diz uma fonte que participa das negociações.
Hoje, a proposta que está em vigor é a da Adnoc, de R$ 10,5 bilhões, mas trata-se de uma oferta não-vinculante. O risco de gastos adicionais em indenizações para a região pode, no mínimo, fazer com que o acordo final demore mais tempo, ainda mais considerando-se que a indústria petroquímica mundial está hoje em um ciclo de baixa.
Mesmo com tantos ventos contrários, é inegável que a Braskem, sétima maior petroquímica do mundo, tem um valor estratégico. O problema é que a demora no acordo entre todos os players envolvidos — Novonor, bancos credores e Petrobras – acaba atrapalhando a negociação e castigando a própria companhia.
Ao mesmo tempo, a visão de especialistas que acompanham de perto as negociações é de que, nesse processo, a Braskem não se comunicou bem. E que ter evitado se posicionar diante das recentes acusações de forma mais efetiva acabou abrindo espaço para uma pressão pública mais difícil de gerenciar. “A empresa decidiu não entrar no jogo político, mas acabou ficando refém dele”, define um analista.
Procurada, a Braskem não respondeu ao pedido de entrevista.