A intercooperação tem apresentado bons resultados para as
cooperativas e, em vários lugares do mundo, tem transformado setores
como o da indústria fonográfica e o bancário, além de garantir a
inclusão digital, com o acesso à internet. Fora do Brasil, a indústria
fonográfica apresenta novas alternativas para quem produz e consome
música. A cooperativa de streaming de música Resonate, com sedes nos
Estados Unidos e Alemanha, é composta por artistas que cobram dos fãs
pelo número de vezes que escutam uma canção. Em 2015, implementou um
modelo no qual, ao ouvir a canção por nove vezes e pagar 0,02 créditos
por vez, o ouvinte torna-se dono dela, efetivando o download.
Desta
forma, os artistas são remunerados de acordo com a quantidade de vezes
que sua música é tocada. Do valor total, a Resonate fica com 30% de
comissão e o restante é direcionado aos artistas. Segundo os criadores,
este modelo é mais justo e sustentável se comparado ao que é ofertado
pelas plataformas comerciais mais tradicionais do mercado. A
justificativa é de que um usuário ouve diversas músicas, mas gosta
apenas de algumas delas e não precisa pagar igualmente por todas.
Em
uma ação de intercooperação, a Resonate recebeu investimento de US$ 1
milhão da cooperativa americana RChain, que colaborou para a criação de
novo website, atualização de sistemas e desenvolvimento de áreas de
marketing e prospecção. Assim, a plataforma tem disseminado uma cultura
independente das grandes corporações e, ao mesmo tempo, as vantagens do
cooperativismo.
A plataforma conta com a adesão de mais de 2 mil
artistas, 13 mil faixas e 400 selos independentes. A cooperativa musical
se associou ainda a diversas entidades independentes do setor nos EUA e
na Europa, além de estabelecer contatos com gravadoras alternativas e
atrair artistas e organizações já prestigiadas no mercado.
Com
serviço similar à Resonate, a Ampled também é uma cooperativa de
streaming de música que coloca o cantor em contato direto com o fã.
Criada em 2018 por um grupo de artistas e especialistas em tecnologia, a
plataforma ajuda o músico a ter uma receita sustentável e previsível.
Embora a cooperativa possa receber investimentos, o controle da Ampled
não é do investidor.
Para isso, a equipe fundadora, antes do
lançamento, contou com a cooperação da Faculdade de Direito da City
University of New York (CUNY) para desenvolver modelos de contratos que
resguardassem a cooperativa. Além disso, firmou parceria para
intercooperação com o Star.coop – programa americano voltado para
desenvolver cooperativas – que acelerou o processo de implementação, e
com o News Museum, que colaborou com o processo de incubação (troca de
saberes).
A Ampled conta com uma estrutura baseada em três
categorias de membros: artistas-proprietários,
trabalhadores-proprietários e membros da comunidade, que detém assentos
no conselho de administração da coop. O conselho, por sua vez, toma as
decisões por meio de votação de maioria simples. Com saldos financeiros
positivos, 85% dos ganhos são distribuídos entre artistas-proprietários e
15% ficam para os trabalhadores-proprietários.
Atualmente, a
Ampled conta com mais de 3 mil usuários, 291 páginas de artistas no ar e
outras 374 em construção. Com a contribuição do público, os artistas
alcançam US$ 8.847,88 mensais, uma média de US$ 6,87, por músico. Desde
2021, a plataforma vem lançando de forma coordenada novas páginas de
artistas agrupadas em “temporadas” e com shows ao vivo. A coop busca
reduzir o individualismo gerado por outras plataformas comerciais e
dividir lucros, além de criar uma forma de trabalho conjunto.
Além
da indústria fonográfica, a intercooperação vem transformando outros
setores com a união de duas ou mais cooperativas, como é o caso da
instituição financeira Swift e da coop que garante telemedicina e
internet de alta velocidade na Finlândia.
Instituições financeiras
Outro
exemplo robusto sobre a intercooperação no mundo é a Sociedade para as
Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais, mais conhecida
como Swift (Society for Worldwide Interbank Financial
Telecommunication). Poucos sabem, mas esta sociedade é a maior
cooperativa internacional bancária. Com sede em Bruxelas, fundada em
1973 por 239 instituições de 15 países, é responsável por criar um canal
de comunicação global entre seus participantes e padronizar transações
financeiras internacionais. Ou seja, o sistema financeiro mundial só é
viabilizado por conta desta cooperativa, que realiza a integração de
serviços bancários e tem um papel no combate às transações
internacionais ilícitas, à medida que criam instrumentos de padronização
e auditoria de transferências internacionais.
Mais conexões
A
Sieppi Verkko leva internet de alta qualidade para os produtores rurais
do norte da Finlândia. Até 2016, os 59 mil habitantes da cidade de
Rovaniemi estavam literalmente desconectados. Então, os próprios
moradores criaram a cooperativa para garantir a conectividade. Foi
quando iniciaram o projeto, concluído em julho de 2019.
Para a
construção da estrutura de fibra óptica, cerca de 20 cooperativas, de 31
cidades, aderiram ao projeto Fiber to the North. Em seguida, foi criada
a Sieppi Verko, uma cooperativa de segundo grau. Com isso, já são 3 mil
famílias beneficiadas não apenas conectando-se à internet, mas também
com acesso aos serviços de telemedicina.
Além da intercooperação
“na veia”, o projeto contou ainda com apoio financeiro do governo da
Finlândia e da União Europeia. Os próximos passos das cooperativas são
diversificar seus serviços proporcionando pequenos créditos para a
compra de equipamentos agrícolas, além da oferta de serviços de
consultoria para planejamento de negócios locais.