A empresária Djidja Cardoso, ex-sinhazinha do Boi Garantido, Cleusimar Cardoso e Ademar Cardoso (da esquerda para a direita) - Foto: Reprodução/Redes sociais
A morte da empresária e ex-sinhazinha do Boi Garantido
Djidja Cardoso, de 32 anos, tornou pública uma seita liderada pela mãe,
Cleusimar, e pelo irmão da jovem, Ademar Cardoso, segundo as
investigações da Polícia Civil.
Entre as supostas inspirações do
trio, estaria um livro com as "cartas de Cristo", que promete "trazer
iluminação ao mundo" e "capacitar a humanidade a construir uma nova
consciência durante os próximos 2000 anos".
O grupo religioso era marcado pelo uso de drogas e abusos sexuais, segundo a polícia.
O que era a seita
A "Pai, Mãe, Vida" foi criada há pelo menos dois anos, segundo relatou o delegado Cícero Túlio, responsável pela investigação.
O
grupo dizia se inspirar em um livro lançado em 2021, o "Cartas de
Cristo - A Consciência Crística Manifestada". O livro prometia contar a
verdadeira natureza de Deus e ensinar a viver uma vida digna.
Os
rituais da seita prometiam aos seguidores "transcender a outra dimensão e
alcançar um plano superior e a salvação" — mas tudo com o uso de
cetamina, segundo a polícia. A droga sintética é de uso veterinário e
tem efeitos alucinógenos.
Quem participava
Funcionários
dos salões de beleza da família e amigos próximos de Djidja, Cleusimar e
Ademar eram induzidos a participar da seita, diz a investigação. Três
colaboradoras foram presas suspeitas de participar no "aliciamento" de
membros para o grupo. São elas Verônica da Costa Seixas, 30, Claudiele
Santos da Silva, 33, e Marlisson Vasconcelos Dantas.
Como eram os rituais
Os
rituais aconteciam em uma casa da família Cardoso, em Manaus, segundo
mostrou o "Fantástico" (TV Globo). Ademar assumia a figura de Jesus,
Cleusimar, a de Maria, mãe do filho de Deus, e Djidja, a de Maria
Madalena.
Aqueles que eram induzidos a participar tinham de tomar
cetamina para "transcender a outra dimensão". Vulneráveis, as vítimas
eram obrigadas a se manter despidas e não podiam tomar banho ou se
alimentar.
Várias teriam sofrido com cárcere e violência,
incluindo abusos sexuais e abortos. A polícia identificou ao menos duas
vítimas que teriam sido mantidas por dias dentro da casa, sendo
estupradas sucessivas vezes por membros do grupo. Uma delas perdeu o
bebê que esperava.
Outro ponto que a Polícia Civil segue
investigando é a suposta utilização de animais domésticos em rituais da
seita — um ponto ainda não detalhado ao público.
Como caso chegou à polícia
As
investigações começaram há cerca de 40 dias, após denúncia de violência
contra a ex de Ademar. O pai da jovem resgatou a filha dopada e a levou
à delegacia, relatando os fatos, segundo o delegado.
Djidja, que
morreu em 28 de maio, também era alvo de investigações por sua
participação no esquema. A suspeita é de que ela sofreu uma overdose de
cetamina durante um dos "rituais". Sua mãe e irmão foram presos dois
dias depois da morte da ex-sinhazinha.
Até mesmo a avó de Djidja
pode ter sofrido com o uso da droga. Uma investigação sobre a morte da
idosa começou depois que familiares suspeitaram que Ademar Cardoso possa
ter injetado cetamina depois de ela ter reclamado de dores.
O que a polícia encontrou na investigação
O
local utilizado para os rituais tinha "cheiro de carne em estágio de
putrefação", segundo descrição da Polícia Civil de Manaus. Dentro da
casa, foram encontradas seringas, doses de cetamina, frascos vazios,
medicamentos, computadores e documentos, todos levados para
investigação.
No momento da prisão, Ademar e Cleusimar tinham lesões na pele "tipo necrose por conta das aplicações".
O que dizem os envolvidos
Um
dos funcionários presos, Marlisson Dantas "está disposto a esclarecer
os fatos para provar a sua inocência" e está à disposição do Poder
Judiciário e das autoridades para colaborar com as apurações", segundo
nota enviada ao UOL pelo advogado Lenilson Ferreira.
O advogado
da funcionária Claudiele disse que não há provas contundentes da
participação dela. Kevin Teles afirmou que a cliente é "apenas uma
funcionária do salão" e negou existir vínculo dela com a família
Cardoso. A defesa informou que deverá emitir nota oficial dentro de
alguns dias para detalhar o caso com "informações verídicas e não apenas
falácias".
A defesa de Cleusimar Cardoso e Ademar Cardoso
admitiu que mãe e filho são "extremamente dependentes químicos", mas
preferiu não se pronunciar sobre o inquérito.
O advogado da funcionária Verônica da Costa Seixas também afirmou que ainda não tomou conhecimento do inquérito policial.
Uma
clínica no bairro Redenção, em Manaus, seria a responsável por fornecer
a cetamina, mas não foram divulgados detalhes sobre identidade e prisão
de responsáveis. A Polícia ainda busca saber se outras clínicas e
veterinários forneceram ao grupo as substâncias de forma ilegal.