A Procuradoria-Geral da República (PGR) incluiu o município de Olho
d’Água do Casado, em Alagoas, na denúncia contra aliados do
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), sob a acusação de planejamento para
interferir no segundo turno das eleições de 2022. Segundo o documento, a
cidade foi identificada como um dos locais estratégicos para possíveis
ações após garantir ampla vitória ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) no primeiro turno, realizado em 2 de outubro de 2022.
A
então diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, Marília
Alencar, teria solicitado um levantamento de municípios onde Lula obteve
mais de 75% dos votos, utilizando ferramentas de Business Intelligence.
Olho d’Água do Casado registrou um percentual ainda maior: 85% dos
eleitores votaram em Lula, totalizando 4.522 votos, enquanto Bolsonaro
recebeu apenas 9,83% (523 votos).
De acordo com a denúncia, o uso
dessas informações era considerado fundamental para um suposto plano de
manutenção de Bolsonaro no poder, visando reverter o favoritismo do
adversário. O analista de inteligência responsável pela coleta dos
dados, Clebson Vieira, demonstrou “perplexidade” com as solicitações e
confirmou que suas análises serviram de base para as operações da
Polícia Rodoviária Federal (PRF) no segundo turno, período em que a
corporação estava sob o comando de Silvinei Vasques.
Segundo
apuração do jornal O Globo, a região Nordeste teria sido o foco
principal das supostas tentativas de interferência. Uma planilha
detalhou 37 cidades onde Lula obteve ampla vantagem, incluindo Capitão
Gervásio Oliveira (PI), Brejo do Piauí (PI), Boquira (BA), Santa Inês
(PB), Cocal dos Alves (PI), Ibimirim (PE), Solidão (PE), Araripe (CE), e
várias outras localidades nos estados da Bahia, Pernambuco, Ceará,
Maranhão e Piauí.
Mensagens trocadas entre aliados do
ex-presidente em um grupo intitulado “EM OFF” sugerem que a operação
também analisou municípios como Porto Alegre e Pelotas, no Rio Grande do
Sul, além de Belford Roxo, no Rio de Janeiro. Em uma das conversas,
Marília Alencar teria afirmado: “Belford Roxo o prefeito é vermelho,
precisa reforçar pf”, referindo-se ao então prefeito Waguinho
(Republicanos), que apoiou Lula na campanha presidencial.
Para a
PGR, as mensagens revelam um esforço coordenado para interferir no
processo eleitoral. As investigações apontam para uma rede de
comunicação estruturada entre os envolvidos, com reuniões e deliberações
sobre o uso de estratégias para influenciar o resultado da eleição,
incluindo a mobilização da força policial.
Procuradoria-Geral da República - Foto: José Cruz
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