O Ministério de Minas e Energia (MME) anunciou nesta semana que, a
qualquer momento, levará para o Conselho Nacional de Política Energética
(CNPE) a proposta de aumentar a mistura de etanol na gasolina de 27%
(E27) para 30% (E30). Testes concluíram que os motores dos veículos não
teriam problemas com essa nova proporção do biocombustível nos tanques.
O
principal fundamento para esta decisão, segundo a pasta, está na safra
recorde de milho a ser colhida pelo Brasil este ano. Na visão do
governo, há matéria-prima de sobra, considerando o cereal e o potencial
da cana-de-açúcar.
Mas qual seria o efeito dessa decisão no
campo? Na visão das associações que representam os produtores e a
indústria de etanol de milho, a notícia é boa por algumas razões.
Estímulo ao plantio
O
aumento da mistura de etanol na gasolina não deve fazer o preço do
milho subir, segundo o diretor-executivo Associação Brasileira dos
Produtores de Milho e Sorgo (Abramilho), Glauber Silveira.
Mas,
se a demanda interna crescer para a fabricação do biocombustível, a
produção precisará acompanhar. Os produtores, portanto, tenderiam a
elevar investimentos no cultivo do cereal no país.
“Quanto mais
aumentar a demanda, mais aumentará a produção. E tem muita área para o
milho crescer na segunda safra, no Paraná, Rio Grande do Sul, Santa
Catarina e outros estados. Também há possibilidade para terceira safra
em outras regiões. Não são áreas novas e sim as ocupadas por outras
culturas ou até mesmo por pastagens”, diz.
De imediato, contudo, o executivo acredita que os 2,5 pontos percentuais de aumento da mistura não vão gerar grande impacto.
O
presidente da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), Guilherme
Nolasco, também diz acreditar que a medida pode estimular os produtores a
investirem mais nas lavouras de milho, em tecnologia, ganho de
produtividade e área plantada na segunda safra, mas não que haverá um
grande aumento de demanda pelo grão no país.
“As indústrias já
estão posicionadas no mercado do milho para atender a sua capacidade de
operação. [O aumento da mistura] não vai influenciar algo que já
cresceu. O setor de etanol de milho adicionou 8 bilhões de litros no
mercado brasileiro nos últimos sete anos e sem o aumento da mistura.
Ainda somos 15% do volume total de milho produzido no país”, destaca.
Segundo
Nolasco, apenas com a capacidade já instalada das usinas atualmente
será possível atender à demanda da nova mistura. A expectativa é que a
produção aumente 2 bilhões de litros na próxima safra.
Ele lembra
ainda há diversos investimentos contratados para expansão da capacidade
já instalada e construção de novas plantas industriais. Na terça-feira,
18, a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP)
autorizou a instalação de uma nova indústria de etanol de milho em
Balsas (MA), a primeira do ramo no Nordeste. A previsão é que a produção
alcance 450 milhões de litros do biocombustível na primeira fase de
operação.
Mais farelo de milho
O consenso
entre produtores de milho e a indústria do biocombustível é que o
crescimento da produção do etanol também ampliará a oferta do DDG,
subproduto gerado no processo de fermentação do cereal na usina, usado
como alimentação animal em granjas, por exemplo.
“Um terço [do
volume usado para a fabricação do etanol] volta ao mercado em forma de
DDG. É nutrição animal, com proteína de qualidade a custo baixo e
promovendo a produção de proteína animal”, afirma Nolasco.
Transição energética
O
presidente da Unem lembra ainda que o maior uso do etanol na gasolina
traz benefícios “a toda a sociedade”, porque substitui um combustível
fóssil por um biocombustível que o Brasil tem produzido cada vez mais.
“Todos saem beneficiados – o ambiente, a cadeia de produção, a agregação
de valor, geração de renda e emprego e contribuindo para diminuir o
preço da gasolina”, diz.
A proposta a ser apresentada pelo
Ministério de Minas e Energia vai ao encontro do objetivo do governo
federal de reduzir a inflação e reconquistar a aprovação da população,
já que a gasolina tem peso nos índices de preços do país.
Mesmo
assim, alas do governo propuseram manter a mistura em 27% durante 2025
nas reuniões realizadas há poucos dias no Palácio do Planalto para
discutir medidas de combate à alta nos preços dos alimentos. De forma
equivocada, a assessoria de comunicação do governo chegou a divulgar que
o percentual de adição do etanol à gasolina seria congelado até o fim
do ano.
Neste ano, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)
estima que as lavouras de milho vão render 122 milhões de toneladas, com
previsão de exportação de 34 milhões e consumo interno projetado em 86
milhões de toneladas.