Uma ferramenta de inteligência artificial (IA) ajudou a encontrar o
melhor medicamento para tratar um paciente com a doença de Castleman
Multicêntrica Idiopática (iMCD), que tinha poucas chances de vida e não
respondia mais aos tratamentos. O achado foi descrito em artigo da
Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e publicado em
fevereiro no New England Journal of Medicine. Atualmente, a pessoa está
há dois anos em remissão da doença.
A iMCD é uma doença rara — um
artigo de 2023 estima sua incidência em cinco casos a cada 1 milhão de
pessoas. De origem desconhecida, ela se caracteriza pela liberação
excessiva de substâncias inflamatórias pelo sistema imunológico, o que
leva a danos em órgãos e tecidos. Pessoas acometidas por ela têm
problemas nos gânglios, inflamação sistêmica, disfunção renal e falência
dos órgãos.
A doença tem baixa taxa de sobrevida — entre 25% e
35% morrem em até cinco anos após o diagnóstico — e há poucas opções
terapêuticas. A única droga aprovada pela Food and Drug Administration
(FDA, sigla da agência que regulamenta fármacos e alimentos nos Estados
Unidos) é efetiva em metade dos casos; os demais se tornam refratários à
terapia.
No caso descrito no artigo, os pesquisadores usaram
inteligência artificial para fazer uma análise genética do soro de
pacientes. Assim, constataram que uma proteína chamada Fator de Necrose
Tumoral (TNF) está aumentada nesses quadros.
Depois, o algoritmo
avaliou opções terapêuticas, sugerindo o bloqueio do TNF como uma
estratégia viável e apontando o melhor medicamento para esse caso entre
drogas já aprovadas pelo FDA.
Para a nefrologista Valéria
Pinheiro de Souza, do Hospital Israelita Albert Einstein, a pesquisa
exemplifica como a IA está revolucionando a descoberta de medicamentos.
“O estudo demonstra o impacto transformador da inteligência artificial
na medicina. Ao combinar análise proteômica, transcriptômica e modelagem
in vitro com aprendizado de máquina, os pesquisadores identificaram um
novo alvo terapêutico para pacientes sem opções eficazes de tratamento”,
analisa.
Mas a implicação desse avanço vai além da medicina. “Na
indústria farmacêutica e na pesquisa clínica, a IA está possibilitando
análises mais precisas, identificando padrões antes invisíveis e
acelerando a personalização de soluções. O mesmo princípio que permite
prever o melhor tratamento para uma doença rara pode ser usado para
antecipar necessidades dos consumidores e otimizar campanhas
estratégicas", observa Souza.
Para a especialista, o estudo
reforça que a IA não é apenas uma ferramenta de automação, mas um
catalisador para descobertas e inovações que podem redefinir paradigmas.
“No futuro, quem souber integrar ciência de dados e IA para resolver
problemas complexos estará à frente na transformação digital”, avalia
Valéria de Souza.