Secretário de JHC é processado pela Igreja Católica pelo desvio de R$ 3 mi A ação solicita à Justiça que o conselheiro fiscal Ronnie Rayner e o padre Walfran Fonseca prestem contas dos recursos recebidos para projetos sociais Por Tribuna Independente com Redação* 24/05/2025 14h02 - Atualizado em 24/05/2025 15h03

                                                    Arquidiocese de Maceió - Foto: Reprodução

A Arquidiocese de Maceió entrou com uma ação na Justiça estadual, no dia 22 de abril, cobrando explicações sobre o uso de R$ 3,1 milhões destinados a projetos sociais voltados a dependentes químicos e pessoas em situação de rua. A medida judicial foi encaminhada à 6ª Vara Cívil da capital alagoana e está sob a relatoria do juiz Ney Costa Alcântara de Oliveira.

O processo tem como alvos o tesoureiro da Fundação Recriar, padre Walfran Fonseca, e o conselheiro fiscal, Ronnie Rayner Teixeira Mota, que atualmente ocupa o cargo de secretário executivo do prefeito JHC. A Fundação Recriar, ligada à Rede Cristã de Acolhimento e Recuperação do Dependente Químico do Estado de Alagoas, funcionava no mesmo endereço da Arquidiocese, na Avenida Dom Antônio Brandão, no bairro do Farol, em Maceió.

De acordo com a ação, a Arquidiocese solicita à Justiça que ambos prestem contas dos recursos que receberam e informem como foram utilizados nos projetos sociais propostos. O valor da causa é de R$ 3.120.000,00, quantia que a Igreja afirma ter sido repassada, mas cujas destinações finais não foram esclarecidas.

Em nota, a assessoria da Arquidiocese declarou que “a medida foi necessária diante da ausência de informações e documentos relativos àquela gestão, de forma que a ação visa, exclusivamente, assegurar que sejam devidamente prestadas as contas correspondentes”. A Arquidiocese reforça ainda que se trata de um procedimento jurídico que busca garantir a lisura, o cuidado e a responsabilidade que devem nortear a administração de qualquer entidade ligada à Igreja.

Comunidades


A Fundação Recriar tem como missão a promoção de ações humanitárias para pessoas em situação de vulnerabilidade social. Ela atuava como um “guarda-chuva” para dez comunidades terapêuticas: Associação Divina Misericórdia (Nova Jericó), Comunidade Evangélica Sarar, Casa Mãos de Alagoas, Quebrando Correntes, Fazenda Esperança, Coração Misericordioso, Comunidade Rosa Mística, Casa Betânia, Juvenópolis e Casa Dom Bosco.

Na gestão do padre Walfran e de Ronnie Mota, a Recriar recebeu mais de R$ 3 milhões do governo federal, via Ministério do Desenvolvimento Social, entre 2018 e 2024. A nova diretoria, nomeada pelo arcebispo Dom Beto Breis após sua posse em março de 2024, não encontrou os documentos e registros contábeis necessários para prestação de contas.

A assessoria da Arquidiocese destaca que a ação judicial não acusa diretamente os envolvidos de furto, mas visa garantir a devida prestação de contas e esclarecer o destino das verbas públicas.

Dinheiro era para custos profissionais e formação de mão de obra


A Fundação Recriar firmou dez convênio com o Ministério do Desenvolvimento Social. Seis desses ainda não tiveram suas contas prestadas:

1) R$ 1 milhão – Cursos profissionalizantes de corte e costura, instalação predial/ encanamento, marcenaria, padaria, serigrafia e serralheria. O período de execução seria de 28 de dezembro de 2018 a 31 de dezembro de 2023, com prestações de contas em 17 de abril de 2024;

2) R$ 500 mil - Cursos profissionalizantes de empreendedorismo, espanhol instrumental, inglês instrumental, marketing, português instrumental e técnicas de vendas. O período de execução seria de 19 de dezembro de 2019 a 19 de dezembro de 2020, com prestação de contas em 24 de abril de 2024;

3) R$ 100 mil - Ministração de oficina de encanação, interpretação de texto, matemática básica, ortografia, padaria, redação e serigrafia, com data limite para a prestação de contas até 24 de abril de 2024;

4) R$ 720 mil - Ministração de oficina de corte e costura, encanação e instalação pre-dial, marcenaria, padaria, produção de doces, serigrafia e serralharia, com data limite para prestação de contas em 24 de abril de 2024;

5) R$ 600 mil - Realização de atividades de cursos profissionalizantes visando a reintegração social de dependentes químicos recuperados e continuidade no funcionamento administrativo da instituição, com data limite para prestação de contas em 14 de abril de 2025;

6) R$ 200 mil - Realização de atividades de reinserção social de dependentes químicos e dar continuidade no funcionamento administrativo da instituição, com data limite para prestação de contas em 12 de junho de 2024;

No total, a Recriar teria recebido R$ 3,120 milhões, estando pendente ainda a prestação de contas referentes aos valores relativos a pelo menos seis projetos da entidade, financiandos pelo governo federal, segundo informação presente na ação.

Irregularidades foram registradas na gestão de Dom Antônio Muniz

Segundo a ação, a falta de prestação de contas ocorreu durante a gestão de Dom Antônio Muniz, que renunciou em 3 de abril de 2024. Após assumir o comando da Arquidiocese, Dom Beto realizou uma ampla intervenção, trocando toda a diretoria da Fundação Recriar, da Fundação Leobino e Adelaide Motta, e remanejando os padres das paróquias.

Padre Walfran foi afastado de todas as funções que ocupava, incluindo a presidência da Associação Beneficente Paróquia de Santo Antônio. Ele também responde a uma denúncia relacionada à prestação de contas de quase R$ 14 milhões da associação que funcionava em Bebedouro e foi transferida para a Santa Amélia por conta do afundamento do solo causado pela mineração da Braskem.

Ele também responde a um processo por crime ambiental. Ele é acusado de permitir a extração irregular de areia no Sítio Bom Retiro, no Francês, terreno pertencente à Igreja Católica. A extração só foi interrompida após decisão judicial em janeiro deste ano, a pedido da Arquidiocese, já sob a gestão de Dom Beto.

Nota da Arquidiocese 

A Arquidiocese de Maceió informa que tramita na Justiça uma ação relacionada à prestação de contas da gestão anterior do projeto Recriar. A iniciativa tem como objetivo assegurar transparência e responsabilidade na administração dos recursos repassados, em conformidade com as diretrizes da Santa Sé, reafirmadas tanto pelo Papa Francisco quanto, mais recentemente, pelo Papa Leão XIV.

A medida judicial tornou-se necessária diante da ausência de documentos e informações sobre a aplicação dos recursos na gestão anterior. O processo não tem caráter acusatório, mas busca garantir que as contas sejam devidamente apresentadas, conforme exige a boa prática de gestão e os princípios que regem as entidades vinculadas à Igreja.

A Arquidiocese reitera seu compromisso com a verdade, a transparência e o serviço ao povo de Deus.

Sobre a extração de areia no terreno pertencente à Igreja, a atual administração da Fundação Leobino e Adelaide Mota determinou a imediata suspensão da atividade, além da abertura de uma auditoria minuciosa para apurar os contratos firmados anteriormente. O objetivo é esclarecer a destinação dos recursos arrecadados e garantir que os valores tenham sido utilizados para fins institucionais.

A suspensão foi determinada pelo arcebispo Dom Carlos Alberto Breis Pereira, presidente da fundação, e envolveu a rescisão do contrato com a empresa Mandacaru Extração de Areia e Comércio de Materiais de Construção Ltda., atualmente em processo de revisão.


 

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