Em plena crise do setor sucroalcooleiro,
os postos e distribuidores de combustíveis em Alagoas voltam a
contrariar a lógica de mercado. Enquanto as usinas reduziram o preço do
etanol hidratado em mais de 16% ao longo de 2025, o consumidor alagoano
viu o combustível ficar mais caro nas bombas.
De acordo com dados
do Cepea/Esalq (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da
USP), o litro do etanol hidratado vendido pelas usinas alagoanas custava
R$ 3,06 em fevereiro e recuou de forma contínua até R$ 2,56 em outubro —
uma queda superior a R$ 0,50 por litro no preço de origem, o que
corresponde a redução de mais de 18%.
| Mês de Referência | Preço nas Usinas (R$/litro) | Variação Mensal |
| ----------------- | --------------------------- | --------------- |
| Fevereiro/2025 | 3,0612 | — |
| Março/2025 | 2,9941 | -2,2% |
| Abril/2025 | 2,9989 | +0,1% |
| Setembro/2025 | 2,7838 | -7,2% |
| Outubro/2025 | 2,5685 | -7,7% |
Fonte: Cepea/Esalq – Indicador Mensal do Etanol Hidratado Combustível (Alagoas)
No
entanto, dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP) mostram um
movimento inverso nas bombas. Em vez de cair, o preço médio do etanol ao
consumidor subiu no estado. Na semana de 23 de fevereiro a 1º de março,
o litro custava R$ 4,95. Já na última semana de outubro, o valor médio
chegou a R$ 5,03.
| Período da Pesquisa ANP | Preço Médio (R$/litro) | Variação |
| ----------------------- | ---------------------- | --------- |
| Fevereiro/2025 | 4,95 | — |
| Outubro/2025 | 5,03 | +1,6% |
Fonte: ANP – Levantamento Semanal de Preços de Combustíveis (Alagoas)
Margem
Os
números revelam uma distorção na cadeia de comercialização. Hoje, o
etanol sai das usinas a R$ 2,56, e com a incidência dos impostos
estaduais e federais — cerca de R$ 1,00 por litro — o preço final para o
distribuidor fica em torno de R$ 3,50 a R$ 3,70. No entanto, o
combustível chega aos consumidores de Maceió e do interior por valores
acima de R$ 5,00, o que indica uma margem de lucro superior a 40% entre o
preço de origem e o valor final.
Essa diferença não apenas prejudica o consumidor, que paga mais caro, como também afeta o setor produtivo. Usinas, agroindústrias e fornecedores de cana enfrentam custos crescentes e dificuldades de competitividade, sem que o benefício do preço mais baixo chegue ao mercado.
A
situação torna-se ainda mais contraditória quando se observa que
Alagoas é um dos maiores produtores de etanol do Nordeste, com produção
estimada em mais de 400 milhões de litros por safra. Além disso, a
proximidade das usinas deveria, naturalmente, resultar em preços mais
acessíveis ao consumidor final.
O que se observa, porém, é o
contrário: o combustível que nasce nas usinas alagoanas chega às bombas
mais caro do que em estados vizinhos que sequer produzem etanol em
escala.
| Estado (Nordeste) | Preço Médio (R$/litro) – out/2025 |
| ----------------- | --------------------------------- |
| Paraíba | 4,67 |
| Pernambuco | 4,74 |
| Bahia | 4,79 |
| Sergipe | 4,85 |
| Alagoas | 5,03 |
Fonte: ANP (Levantamento de outubro/2025)
A
manutenção artificial de preços altos em um período de queda de custos
compromete a competitividade do etanol frente à gasolina, que também
teve redução de preço pela Petrobras. Além de reduzir o consumo do
combustível limpo, essa prática penaliza o setor canavieiro, que é base
da economia de diversas cidades alagoanas.
Sem repasse, o cenário se agrava: o consumidor paga mais, o produtor recebe menos e os revendedores ampliam lucros.
Apesar
da evidência dos dados, nenhum órgão fiscalizador, como o Procon ou a
ANP, anunciou ações específicas para investigar a ausência de repasse ao
consumidor final em Alagoas.
A diferença entre os preços de
usina e de bomba reforça a percepção de falta de fiscalização efetiva no
setor de combustíveis em Alagoas.
Enquanto as usinas tentam
sobreviver em meio à crise do açúcar e do álcool, os distribuidores e
postos mantêm margens elevadas e pouco explicáveis — numa equação que
continua pesando, injustamente, sobre o bolso do consumidor e o futuro
da economia sucroalcooleira do estado.
