O Comitê Assessor Externo (CAE) da Embrapa Alimentos e
Territórios (Maceió, AL) reuniu-se em 8 de abril, para a análise de
cenários, tendências e demandas da sociedade que podem pautar a atuação
do centro de pesquisa. Esse olhar externo é fundamental para que a
Empresa se mantenha alinhada às tendências mundiais, direcionando o seu
planejamento estratégico, tático e operacional.
As principais
tendências alimentares indicam um consumo cada vez mais consciente em um
contexto no qual o consumidor tem um papel decisivo, exigindo a busca
por estratégias de gestão sustentáveis que possam impulsionar os
serviços da biodiversidade, em equilíbrio com a produção e o
abastecimento.
“Os consumidores estão muito bem informados, e
querem produtos diferenciados, associados à praticidade, ao prazer de se
alimentar e à sustentabilidade”, afirma João Flávio Veloso, chefe-geral
da Unidade. Por isso, associar o alimento às inovações tecnológicas e
sociais, às políticas públicas e, principalmente, às pessoas está no
cerne da atuação da Embrapa Alimentos e Territórios.
Essa
transformação dos hábitos alimentares está sendo acompanhada pela
indústria global de alimentos e também por instituições de pesquisa
mundiais. Alinhada a esse movimento, a mais nova Unidade da Embrapa,
criada em junho de 2018, representa um exemplo de iniciativa voltada a
gerar inovações e tecnologias que atendam a essas demandas por alimentos
mais saudáveis e nutritivos, produzidos de forma sustentável com
conservação e uso da biodiversidade.
“Acreditamos na agricultura
que valoriza os alimentos e suas relações com os territórios, a
biodiversidade e as pessoas. Atuamos em redes e, inclusive, já temos uma
rede muito boa com instituições nacionais e internacionais”, disse
Veloso. “O nosso foco é produzir inovações sociais e também tecnológicas
com esse olhar voltado para a melhoria da qualidade de vida das pessoas
e para a sustentabilidade dos territórios”, acrescentou.
O
centro de pesquisa desenvolve trabalhos focados na valorização dos
produtos agroalimentares, na biodiversidade e no desenvolvimento
territorial. “O desafio é prospectar a biodiversidade e os territórios
alimentares, materializando produtos e processos”, informou Ricardo
Elesbão, chefe de PD&I.
As linhas de pesquisa abrangem
antropologia e sociologia da alimentação; selos distintivos de qualidade
e de origem e certificações; circuitos de produção e consumo de
produtos agroalimentares; sistemas agroalimentares diferenciados;
biodiversidade e patrimônio alimentar; agregação de valor, gastronomia e
turismo rural; e nutrição e saúde.
Outros desafios que a Unidade
enfrenta são a formação da equipe, que já conta com 35 empregados, e a
instalação da estrutura física localizada no povoado Saúde, bairro de
Ipioca, em Maceió, onde funcionou a Fábrica Norte Alagoas da Companhia
de Fiação e Tecidos Norte de Alagoas.
Fábio Soares Silva, chefe
de Administração, apresentou um panorama da situação atual, com ênfase
nas ações que estão sendo adotadas para a contratação dos projetos
construtivos, a estruturação de processos internos e a racionalização de
recursos.
Oportunidades de inovação e parcerias
Cabe
aos membros do CAE, órgão colegiado e consultivo de suporte à gestão,
promover a interação da Unidade com o ambiente externo, indicando
oportunidades de inovação e parcerias com instituições públicas e
privadas. Além disso, o comitê tem o papel de apoiar a programação de
Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) do centro de pesquisa.
“Para
a Embrapa, esse é um momento muito importante, especial”, comentou
Tiago Ferreira, diretor de Gestão Institucional da Embrapa e presidente
do comitê. Ele explicou que o CAE é uma instância extremamente
relevante para o planejamento estratégico e a programação científica da
Empresa, destacando o perfil dos membros que assessoram a Embrapa
Alimentos e Territórios, os quais têm uma visão voltada para as conexões
entre o alimento, o ambiente, a cultura e o turismo.
Essa
abordagem associada à ciência estabelece novas relações e oportunidades
para a Embrapa. A partir da reunião do comitê, compete à Empresa captar
os sinais, tendências e demandas dos setores associados e das cadeias
produtivas agropecuárias. O chef Max Jaques, pesquisador do Instituto
Brasil a Gosto, ressaltou a necessidade de se pensar políticas públicas
para desenvolver a gastronomia social, valorizando o saber popular, o
patrimônio alimentar e as pessoas.
As ideias apresentadas
durante a reunião estão alinhadas às grandes transformações dos sistemas
agroalimentares que estão sendo discutidas globalmente, na opinião de
Patrick Caron, vice-presidente de Assuntos Internacionais da
Universidade de Montpellier, na França, e pesquisador do Centro de
Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento
(Cirad). “Muitos pontos são inovadores”, destacou. Como exemplo, citou o
enfoque dado à gastronomia que, inclusive, pode contribuir com a agenda
das instituições internacionais de pesquisa.
O Brasil é
reconhecido como uma potência agrícola, mas também pode ser uma potência
turística e gastronômica, na visão de Vinícius Lages, diretor do Sebrae
Alagoas. Para ele, o novo centro da Embrapa é uma inovação
institucional e pode dar essa contribuição para a construção de outro
modelo de agronegócio, baseado em inovações sociais e em consonância com
os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
O pesquisador da
Embrapa Agroindústria Tropical (Fortaleza, CE) Lucas Leite destacou a
importância da atuação nacional, em rede, de forma articulada com outros
centros de pesquisa da Empresa conectados à temática. Ele ainda
enfatizou a relevância de desenvolver trabalhos com equipes
multidisciplinares, de forma integrada, para resolver problemas
complexos da agricultura.
Para valorizar o consumo de produtos
locais e fortalecer o desenvolvimento territorial, o Ministério do
Turismo (MTur) criou o Programa Nacional de Turismo Gastronômico,
lançado em março. “Gostaríamos de contar cada vez mais com o apoio da
Embrapa”, reforçou Rafaela Lehmann Herrmann, coordenadora-geral de
Turismo do MTur. Em parceria com o Instituto Federal de Brasília (IFB) e
o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), estão
previstas diversas ações, como oficinas de capacitação e eventos para
incentivar o turismo rural no contexto dos agricultores familiares.
Os
membros do CAE manifestaram interesse em participar de um seminário a
ser organizado pela Embrapa Alimentos e Territórios com o objetivo de
apresentar aos demais centros da Empresa as diretrizes, as tendências e
as oportunidades de pesquisa discutidas na reunião. O intuito é promover
um debate para que se possa identificar ações transversais visando à
atuação interdisciplinar.
Assim, busca-se avançar na visão dos
alimentos além dos aspectos da produção e da produtividade, para
considerar também a agregação de valor sob pontos de vista da saúde e
nutrição, da identidade, gastronômico, turístico e, ainda, como fator de
inclusão social, produtiva e econômica.