Após denúncias de pequenos furtos cometidos em sequência,
em uma grande livraria de Maceió, funcionários ligaram o alerta sobre
os motivos de isso estar acontecendo. A resposta não demorou a vir, mas
surpreendeu a todos.
Tratava-se de jovens, em sua maioria
adolescentes e de bom poder aquisitivo, que estavam deliberadamente
furtando livros e materiais de papelaria. O objetivo deles era ostentar
os produtos roubados em “trends”, nas redes sociais.
Trend é uma
palavra de origem inglesa que significa tendência. Atualmente as redes
sociais têm um forte impacto no cotidiano da população e é comum que
novas tendências surjam ao longo do tempo, como dancinhas e desafios,
mas isso pode se tornar um problema quando atitudes negativas, e até
ilegais, são encorajadas por uma moda na rede social.
Diversas
subcomunidades estão "escondidas" na internet, sendo locais onde
determinados grupos que se identificam com algo em específico debatem
abertamente sobre o tópico. Apesar de parecer algo inofensivo, algumas
dessas comunidades são conhecidas, principalmente, por seus membros
praticarem crimes e incentivarem que os outros façam o mesmo.
É o
caso do "cleptotwt" (clepto twitter), uma subcomunidade de pessoas que
se declaram cleptomaníacas e frequentemente compartilham os seus furtos
na rede. Esses furtos variam entre coisas pequenas, como itens de
farmácia e guloseimas, a coisas mais caras, como roupas e maquiagens.
O que é a cleptomania?
“Conseguidinhos”
Em Maceió, uma jovem foi presa em flagrante após furtar um livro em uma livraria de um shopping de Cruz das Almas. Segundo a coordenadora de vendas da loja, o ato tem sido cada vez mais comum, principalmente entre os jovens. De acordo com ela, na última semana três adolescentes, com idades entre 14 e 15 anos, foram flagrados tentando furtar cerca de R$ 2.000 em produtos no estabelecimento.
"Quase todo dia pegamos alguma coisa nas câmeras. Inclusive existe uma trend no Twitter onde as adolescentes furtam nas lojas e postam seus "ganhos" com o maior orgulho", contou.
É o caso do uso da gíria "rateio", utilizada para relatar o ato de
cometer algo impróprio ou ilegal. Utilizando as cifras, ou seja, o uso
de números substituindo algumas letras, eles compartilham os rateios do
dia e passam despercebidos.
De acordo com a psicóloga Nicolly Amorim, existem vários fatores que
contribuem para que uma pessoa cometa esse tipo de delito, e um deles
pode ser aliviar ansiedade, estresse e outras emoções que podem ser mais
desagradáveis de sentir.
"Muitas pessoas não sabem muito bem
como administrar as emoções e procuram formas de aliviá-las e esses
pequenos furtos podem funcionar como válvula de escape. Se o indivíduo
percebe que isso funciona e se sente bem com isso, a tendência é que ele
repita esse comportamento e até incentive para que outras pessoas
façam. Por outro lado, o indivíduo pode praticar esse delito em busca de
adquirir um item que não consegue comprar mas que deseja ter. Indo pra
um aspecto mais profundo, alguns indivíduos realmente podem ter o
transtorno da cleptomania em que ele é incapaz de controlar seu impulsos
e furtar", explicou.

Nicolly alerta ainda que, apesar de não ser possível afirmar
com certeza que apenas praticando esses furtos repetidas vezes o sujeito
vá desenvolver o transtorno da cleptomania, a sensação de prazer ao
conseguir furtar o que se quer pode se tornar viciante e fazer com que o
indivíduo repita esse comportamento.
"As causas da cleptomania
ainda são desconhecidas, mas existem vários fatores que podem contribuir
para o seu aparecimento como histórico familiar de cleptomania ou
outros transtornos de controle de impulsos. Além de que esse transtorno
geralmente tem seu início no final da adolescência ou no início da vida
adulta, o que geralmente é a faixa etária das pessoas que participam
dessas trends. É algo a ser observado com cautela e se necessário
procurar ajuda de um profissional", explica a profissional.
As
redes sociais estão cada vez mais presentes na vida dos jovens, e apesar
de outros fatores desencadearem esse tipo de comportamento, vale ficar
atento aos impactos negativos que as mídias digitais podem ter em cada
indivíduo.
"Na era dos likes, ser visto, reconhecido por outras pessoas, receber
curtidas e até mesmo hitar (viralizar), por mais errado ou perigoso que
aquele comportamento seja, dá ao indivíduo uma sensação de poder e isso
pode ser um reforçador para que esse ciclo continue".
Ainda de
acordo com a psicóloga, o desejo de pertencer a um grupo ou comunidade
pode fazer com que haja a vontade de reproduzir um comportamento, sendo
possível que, ao ver um novo trend, o jovem tente fazê-lo para se
enturmar.
"Existem estudos que falam sobre como o comportamento
de um indivíduo pode ser modificado quando ele está em meio a multidões
(nesse caso, as trends), acaba surgindo um efeito manada, onde a pessoa
age mais emocionalmente do que racionalmente", completou, explicando
ainda que não necessariamente todo mundo que ver a publicação irá
replicá-la.
