
Um dia após conquistar a medalha de ouro na categoria até
65 quilos (kg) do taekwondo na Paralimpíada de Paris, Ana Carolina
Moura estava praticamente sem voz - e não tinha nada a ver com
comemoração. Neste sábado (31), a mineira se juntou à torcida pela
paranaense Débora Menezes, da categoria acima de 65 kg, no Grand Palais,
onde ocorrem as disputas da modalidade.
Na sexta-feira (30),
além das próprias lutas, ela se empenhou em apoiar a paraibana Silvana
Fernandes (bronze na categoria até 57 kg) e o paulista Nathan Torquato
(superado na semifinal da categoria até 63 kg e que ficou fora da briga
pelo terceiro lugar devido a uma entorse no joelho no combate anterior).
"Sou
uma boa atleta, mas uma excelente torcedora. Sou a histérica [risos]",
brincou a primeira campeã paralímpica do Brasil em Paris, em entrevista à
EBC na Casa Brasil Paralímpico, em Saint-Ouen, cidade vizinha à capital
francesa.
Carol, como é chamada, desembarcou na França como
candidata a pódio. Atual campeã mundial, ela ocupava o segundo lugar do
ranking da World Taekwondo, a federação internacional da modalidade. Na
trajetória até o ouro, obtido em sua estreia paralímpica, a mineira,
primeiro, venceu a grega Christina Gkentzou.
Na semifinal,
superou com facilidade a camaronesa Marie Antoinnette Dassi. A luta pelo
título foi contra a francesa Djelika Diallo. Apesar da grande torcida
favorável à adversária no Grand Palais, a brasileira resistiu à pressão.
"Claro
que a gente sabe que pode não vir, mas o trabalho é pela douradinha.
Fico muito satisfeita de ter vindo da forma como a gente trabalhou",
comemorou a lutadora, que nasceu com má formação no antebraço direito e
iniciou no esporte para autodefesa, após ter sido assaltada e perdido um
colar dado pela tia.
"Comecei como hobby. Tive uma lesão
[ligamento do joelho] com três meses de treino, fiquei fora do tatame
por um ano. Assim que pude pisar [no chão] de novo, que o médico
liberou, já estava de novo no tatame", recordou Carol, que saiu da Casa
Brasil correndo direto para o Grand Palais, onde acompanhou a reta final
das lutas de Débora Menezes com a pouca voz que ainda lhe restava.
Sangue no olho
Bicampeã
mundial da categoria até 57 kg, Silvana Fernandes era candidata à
medalha de ouro. A paraibana estreou com uma vitória dramática sobre
Palesha Goverdhan, do Nepal. Na semifinal, apesar de muito equilíbrio,
ela não resistiu à chinesa Yujie Li (que levou o ouro). Já na disputa
pelo bronze, a brasileira não tomou conhecimento da cazaque Kamilya
Dosmalova para assegurar o terceiro lugar.
"A gente chega com um
objetivo, mas tem que entender que, às vezes, [as coisas] não funcionam
como a gente quer. A semifinal foi acirrada, não deu, mas prometi a mim
mesma que não sairia sem medalha. Voltei com sangue no olho e consegui o
bronze", descreveu Silvana, que tem má formação congênita no braço
direito e chegou a ser atleta do lançamento de dardo antes de migrar
para o taekwondo em 2018.
Com a medalha de bronze no peito,
igualando o resultado da Paralimpíada de Tóquio, no Japão, em 2021, a
paraibana já pensa na vaga para os Jogos de Los Angeles, nos Estados
Unidos.
"Como sou líder do ranking mundial, tenho pontos que
podem ajudar a me garantir em Los Angeles. Serão quatro anos de
preparação e escolhendo bem as competições que disputar, para conseguir
essa medalha [de ouro] em 2028", concluiu Silvana.