Escutar a população atingida pelo pelo afundamento do solo provocado
pela Braskem em Maceió, esse é o objetivo da campanha Ecoa, lançada
nesta segunda-feira (19), através do programa Nosso Chão Nossa História,
do Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (UNOPS), em
parceria com o Comitê Gestor dos Danos Extrapatrimoniais (CGDE).
A
escuta ampliada irá utilizar uma ferraemnta de inteligência artificial
humanizada, a Iara, para alcançar e receber informações e relatos dos
maceioenses que foram afetados pelo maior desastre - reconhecido
com crime - socioambiental em área urbana do mundo.
A coleta
qualificada dessas informações servirá de base para projetos de
reparação aos bairros afetados, de forma a garantir o resgate e o
direito à memória da população maceioense para além dos danos
financeiros, auxiliando na preservação e manutenção do modo de vida
local - cultura, religiosididade e dinâmicas específicas das regiões
- que foi interrompido pela Braskem.
A ferramenta Iara estará
disponível a partir de quarta-feira (21), através do Whatsapp: (82)
98710-4889. A população poderá compartilhar demandas referentes aos
danos morais coletivos causados pelo desastre, que expulsou 60 mil
alagoanos de suas casas.
"Não é possível fazer investimentos em
torno dos danos imateriais sem de fato considerar o que essas pessoas
têm hoje enquanto realidade. A desocupação dos bairros aconteceu em
2018, nós estamos em 2025. A realidade cotidiana dessas pessoas e
famílias já mudaram e por isso elas precisam ser visíveis e ter esse
lugar de fala", explica Renata Ferreira, Coordenadora Social do projeto
Nosso Chão, Nossa História.
Os danos, explica Renata, são
aqueles que vão além da esfera do financeiro, ou seja, danos que
destruíram o convívio social de uma ou mais comunidades, afetando o
coletivo e destruindo os laços ali criados.
O Unops pretende
alcançar, a partir da escuta ampliada, ao menos 14 mil pessoas atingidas
diretamente pelo afundamento de solo - cerca de 25% do total de
vítimas.
Apesar de ter como foco a população atingida, toda a
população de Maceió é convidada a participar da escuta para falar sobre
os impactos do desastre.
Além do novo canal de comunicação, a
escuta será realizada ainda através de uma busca ativa, que acontece em
26 bairros da capital - onde registrou-se aumento no número de moradores
desde o início do processo de êxodo urbano - através de mobilizadores e
unidades móveis que estarão presentes nesses bairros e buscarão as
pessoas afetadas para que elas possam relatar os prejuízos
extrapatrimoniais no seu modo de vida.
Através dessa
mobilização, o programa espera reunir relatos da população da capital
para que assim os projetos de reparação sejam realizados e direcionados
de maneira mais efetiva, reconstruindo vínculos e recuperando as
memórias destes locais.
Nosso Chão Nossa História
O Programa Nosso Chão, Nossa História é resultado de ação civil
pública representada pelo Ministério Público Federal de Alagoas
(MPF/AL), que responsabilizou a Braskem pela reparação dos danos
extrapatrimoniais ocorridos a partir do afundamento de cinco bairros de
Maceió.
As atividades e os projetos do Programa Nosso Chão, Nossa
História são definidos pelo Comitê Gestor dos Danos Extrapatrimoniais
(CGDE) - um grupo que reúne pessoas da sociedade civil e representantes
de instituições públicas, de atuação voluntária. As ações são
operacionalizadas pelo Escritório das Nações Unidas de Serviços para
Projetos (UNOPS). É prevista a aplicação de R$ 150 milhões ao longo de
quatro anos, pagos pela Braskem, por meio da implementação de projetos
por organizações da sociedade civil, para a reparação de danos morais
coletivos.